WANDERLEY NOVATO

Fatores de formação das estratégias ambientais empresariais
Em: https://www.ufrgs.br/sustentabilidade/?cat=15 Publicado em abril 26, 2013
Renato Santos de Souza
Você já se perguntou por que as empresas assumem posturas tão diferentes em relação às questões ambientais? Por que algumas são proativas, antecipam soluções para possíveis problemas ambientais e agem à frente das demais nesta matéria, enquanto que outras tratam de cuidar do meio ambiente apenas quando são coagidas pelos órgãos de fiscalização ou pela sociedade? Por que algumas são inovadoras enquanto outras são retardatárias? Porque elas apresentam condutas tão variadas em relação ao meio ambiente e à sustentabilidade ambiental?
Muitos colocam estas diferenças de postura na conta pessoal dos empresários; ou seja, a postura das empresas seria um mero reflexo da postura de seus dirigentes. Sendo assim, para dirigir as ações das empresas para uma posição mais ambientalmente sustentável, bastaria “conscientizar” os dirigentes da importância desta mudança de postura, da necessidade de ter uma conduta mais ética e responsável em relação ao meio ambiente.
Para outros, o problema não é tanto de consciência ética ou de responsabilidade ambiental, mas de consciência econômica mesmo. Estes, frequentemente acreditam na chamada hipótese “ganha-ganha”, qual seja, de que os investimentos ambientais têm potencial para elevar a lucratividade da empresa e incrementar-lhe a competitividade. Ou seja, mais cedo ou mais tarde, ganhos ambientais levarão necessariamente a ganhos econômicos. Desta forma, bastaria conscientizar os empresários dos benefícios financeiros e competitivos de ter uma conduta ambiental adequada, que a racionalidade econômica empresarial trataria de fazer o resto.
Esta pesquisa nasceu de uma descrença em relação a estas duas concepções. Acredita-se que nem a conduta das empresas é um mero reflexo da postura de seus dirigentes, nem os investimentos ambientais tem sempre condições de proporcionar vantagens econômicas a elas. Ou seja, a mudança na conduta das empresas em direção a posições mais sustentáveis não é apenas uma questão de consciência moral ou econômica dos empresários. As empresas operam sob as contingências dos seus contextos particulares, de modo que os empresários não tem total liberdade sobre as suas ações, e a possibilidade ou não das ações ambientais trazerem benefícios econômicos é uma particularidade de cada contexto.
Neste sentido, sem entender as razões que as empresas têm para agirem como agem em relação ao meio ambiente, pouco poderemos influenciar suas ações em direção à sustentabilidade ambiental. Ou seja, trata-se de entender as estratégias ambientais das empresas em seu próprio contexto.
A questão abordada por esta pesquisa, portanto, não é nem de conscientização ambiental nem de provar que uma melhor conduta ambiental leva a ganhos para a empresa, mas de entender as condições que tornam possíveis, convenientes ou necessárias estratégias ambientais de maior ou menor proatividade, bem como a diferenciação destas estratégias em função do contexto da empresa. Com esta pesquisa, portanto, buscou-se identificar quais são os principais fatores de formação das estratégias ambientais empresariais, e como eles influem e condicionam estas estratégias no contexto específico de cada empresa.
Para dar conta destas questões, pesquisaram-se as estratégias ambientais de quatro empresas em dois setores industriais distintos, a Refinaria de Petróleo Ipiranga (RPI) e a Companhia Petroquímica do Sul (Copesul) representando a indústria do petróleo, e a unidade da Klabin de Otacílio Costa e a Cambará Produtos Florestais representando a indústria de celulose e papel.
Dentre as conclusões do trabalho está algo já levantado por vários outros estudos, qual seja, a confirmação da preponderância que as demandas e pressões do ambiente externo (mercados, sociedade civil organizada, regulamentações, governos, etc.) têm sobre os processos de formação e evolução das estratégias ambientais das empresas. Observou-se que boa parte dos esforços na área ambiental advém da busca da empresa por legitimação, ou seja, uma espécie de aceitação ou validação externa de suas atividades, para o que ela tenta estar em conformidade com tudo aquilo que é considerado importante ou que é exigido por aqueles demais agentes que formam o seu ambiente, como clientes, governos e sociedade civil, dentre outros.
Concluiu-se, também, que as estratégias ambientais são fundamentalmente contingentes e contextuais: contingentes porque as demandas e pressões são mais importantes do que as ações voluntárias das empresas no direcionamento da sua conduta ambiental; e contextuais porque estas contingências variam de empresa para empresa, e são muito particulares do contexto de cada uma delas. Observou-se que, embora haja um sentido geral comum de evolução das práticas ambientais das empresas, o timing com que esta evolução ocorreu, o tipo de práticas utilizadas, a profundidade das melhorias realizadas, os fatores motivadores das mesmas e o tipo de contingências que sofreram foram diferentes para cada uma, e podem ser explicadas pelo contexto individual das mesmas. A este contexto significativo para as estratégias ambientais das empresas, chamou-se de contexto estratégico.
Um dos principais esforços deste trabalho foi desdobrar este contexto estratégico das empresas nos diversos elementos que o constituem, buscando indicar como cada um deles pode afetar as opções estratégicas que elas possuem e adotam. Observou-se que o contexto estratégico da empresa é formado pelo ambiente regulativo, ambiente locacional, ambiente de mercado, ambiente setorial, ambiente de suporte e recursos e ambiente organizacional. Para cada um deles, foram identificados os principais elementos contextuais, ou seja, aqueles mais relevantes para as estratégias ambientais e que variam de empresa para empresa, os quais são apresentados na tabela a seguir.
Elementos contextuais e ambiente
1 Regulativo
1.1 Regulamentações ambientais atuais com implicações sobre as atividades da empresa e outras regulamentações com implicações ambientais para a empresa
1.2 Evolução prevista para as regulamentações atuais e novas normas previstas para o futuro
1.3 Atuação dos órgãos reguladores sobre a empresa
2 Locacional
2.1 Potencial de impacto ambiental da empresa no seu entorno
2.2 Existência e atuação de organizações sociais, ambientais e educacionais na área ambiental
2.3 Existência ou não de outras empresas que dividam as atenções ambientais da comunidade
2.4 Grau de dependência da comunidade em relação à empresa
3 De mercado
3.1 Possibilidades do mercado identificar e reconhecer os impactos e melhorias ambientais da empresas
3.2 Dinâmica competitiva no mercado da empresa
3.3 Nível de exigência ambiental no mercado da empresa
3.4 Tipo de produto produzido pela empresa
4 Setorial
4.1 Potencial de impacto ambiental das atividades do setor
4.2 Conduta de organizações de classe setoriais relativas às questões ambientais
4.3 Dinâmica tecnológica setorial
4.4 Estrutura regulativa do setor
5 De recursos
5.1 Orientação ambiental de agentes financiadores
5.2 Disponibilidade e acessibilidade de tecnologias e de conhecimentos ambientais
5.3 Tipos de matérias primas e insumos utilizados pela empresa
6 Organizacional
6.1 Comprometimento da alta administração para com as questões ambientais
6.2 Tipo e grau de relação desenvolvido entre a organização e a comunidade
6.3 Estrutura da organização na área ambiental
6.4 Capacidades organizacionais
6.5 Contingências técnicas e econômicas
6.6 Contexto histórico da empresa
As conclusões deste estudo implicam em dizer que não se pode tratar o efeito que as demandas e pressões ambientais têm sobre as empresas de uma forma genérica, nem se pode julgar e/ou prescrever estratégias ambientais gerais para elas sem considerar todos os elementos de seu contexto. Além disso, implica também que se deve olhar com cuidado para as tipificações de estratégias ambientais empresariais, que classificam as empresas ou os seus comportamentos como proativos, reativos, etc. Como se pôde concluir neste trabalho, a maioria destas tipificações parte de uma simplificação do comportamento empresarial, e passam a ideia de que a conduta assumida pelas empresas é fruto exclusivo de uma escolha voluntária das mesmas.
No entanto, pode-se dizer que as próprias escolhas estratégicas que as empresas fazem, e mesmo a evolução do seu pensamento ambiental, são eminentemente contingentes e contextuais. Ou seja, empresas que estão sujeitas a contextos de maiores demandas ambientais tendem a desenvolver uma postura mais próativa em relação ao meio ambiente, seja para antecipar regulamentações, para buscar identidade com a comunidade ou para melhorar sua posição de mercado quando a sua conduta ambiental for importante para isso.
Além disso, pôde-se observar que o pensamento ambiental das empresas pesquisadas difere do pensamento ecologista por não comportar dimensões éticas e morais. Ao contrário, é um pensamento inserido nas estratégias de negócio da empresa. Mesmo naquelas com uma conduta ambiental mais avançada, o pensamento ambiental esteve, de forma ajustada às demandas de seu contexto, a serviço da sobrevivência institucional da organização e do seu desempenho nos negócios. Assim, a evolução do pensamento ambiental da empresa representa, em boa medida, a evolução de como ela vê a importância estratégica das questões ambientais no seu contexto, seja para a sua sobrevivência institucional, seja para o desenvolvimento de seus negócios.
O trabalho ressalta, também, que o contexto interno da empresa, que chamamos de ambiente organizacional, não é algo fechado, nem algo que se forma endógena e voluntariamente por ela. A empresa não elabora o seu contexto interno a partir de si própria, mas a partir de seu ambiente externo. Elementos deste contexto interno como o comprometimento da alta administração, o padrão de relacionamento com a comunidade, a estrutura da organização na área ambiental, capacidades organizacionais, contingências técnicas e econômicas e o contexto histórico da organização, são todos fatores fortemente influenciados pelo ambiente externo. Assim, o ambiente externo da organização, com suas demandas, pressões e oportunidades, mostra-se ainda mais importante no direcionamento das estratégias ambientais das empresas.
A visão contingente e contextual apresentada neste estudo, sugere que as empresas enfrentam condições muito particulares na condução das questões ambientais, e que isto implica de forma decisiva sobre as suas estratégias de ação.
................................................................................................................................................................................................
Gestão Ambiental Empresarial : Quatro modelos (e uma estratégia inspirada na "ecologia da natureza)
(Resumo do livro Gestão Ambiental Empresarial - BARBIERI, Capítulo 4)
-
O ambiente externo da gestão ambiental nas empresas
-
Políticas públicas ambientais / Pressões sobre as empresas / Iniciativas voluntárias
-
GOVERNO – Legislação, impostos
-
SOCIEDADE – Percepção, cobranças, organizações de pressão
-
MERCADO – Exigências de clientes, para exportar, imagem
Empresas sustentáveis: satisfazem suas necessidades / mantêm equilíbrio entre suas ações e o ambiente (reciclando, evitando consumo e desperdícios desnecessários, substituindo) / previnem danos / restauram danos / contribuem para a solução e não para o aumento dos problemas / geram receita suficiente para sobreviver e crescer
Os 3 níveis de abordagem:
-
Controle – reativa
-
Prevenção – reativa e proativa
-
Estratégica – reativa e proativa
É um caminho, mas nem todos seguem, e nem todos começam do início.
Similaridade na Administração com o movimento da qualidade
No início, e depois:
-
Preocupação só de algumas empresas
-
Preocupação só do setor industrial
-
Diferencial exclusivo
-
Chamada da alta direção
-
Só a área de produção se preocupava
-
Foi aos poucos sendo criada uma área específica para o assunto
-
Aos poucos foi se disseminando
-
Participação e envolvimento de todos na empresa
-
Todas as empresas, de todas as áreas
Os 4 modelos (apresentam certas similaridades, já que o objetivo é o mesmo):
-
TQEM – Adaptação dos conceitos, instrumentos e preocupações da TQM para Gestão da Qualidade Total Ambiental
-
Produção mais limpa – Reuso, reciclagem e alteração de processos e produtos visando a minimização dos impactos ambientais, uso de insumos e geração de resíduos – tudo feito de forma permanente e sistemática. Envolve a classificação da empresas em “níveis” – pelo grau de compromisso e os tipos de ações ambientais que desenvolvem.
-
Ecoeficiência – Envolve a medição dos impactos e dos custos de energia, água e outros insumos nas unidades produzidas.
-
Projeto para o meio-ambiente – Envolver a preocupação ambiental na concepção dos produtos e até na criação da empresa (ou de uma nova unidade)
-
Modelos inspirados na natureza
Diversos nomes – metabolismo industrial, ecologia industrial, simbiose industrial
Conceito de metabolismo – nas ciências biológicas:
Transformação de compostos orgânicos em energia e desenvolvimentos do corpo
Na indústria – processos similares (transformação de matéria prima)
Balanço de materiais – o que sobra?
-
Necessidade de conhecimento de ciências ambientais
-
Necessidade de articulação entre empresas
-
Ação do Estado e de associações empresariais
Não é utopia; já existem na Europa experiências nessa área.
Mais possibilidades: Integração parcial.
É possível a resolução de problemas ambientais criando oportunidades de negócio.
Na prática das empresas é normal a combinação de características dos modelos estudados
Instrumentos de gestão que possibilitam as iniciativas estratégicas de gestão ambiental empresarial:
-
Avaliação de riscos ambientais
-
Relatórios ambientais
-
Relatórios de sustentabilidade
-
Auditorias ambientais
-
EIA
-
Avaliação do ciclo de vida
-
Avaliação do desempenho ambiental
-
Sistemas completos de gestão ambiental que incluem tudo isso