WANDERLEY NOVATO

O referencial teórico
O referencial teórico tem como objetivo desenvolver ideias com base em referências bibliográficas, visando o embasamento teórico do estudo, esclarecendo quais são os principais teóricos que já estudaram o assunto, e mostrando que o pesquisador está atualizado quanto às discussões dentro do seu tema.
É necessário que seja feita antes uma revisão da literatura, que é uma consulta à bibliografia, e serve para definir os conceitos, situando o pesquisador quanto aos trabalhos já publicados sobre o assunto. Essa revisão tem limitações porque o número de obras sobre qualquer assunto cresce continuamente em todo o mundo.
Esses dois termos - “revisão de literatura” e “referencial teórico” - às vezes são usados indistintamente, mas uma definição mais precisa considera a revisão de literatura como uma pesquisa mais geral acerca do tema pesquisado. Ela abrange artigos científicos, livros técnicos e estudos acadêmicos de pós-graduação, levantando pontos de vista diversificados de muitos autores. O levantamento deve cobrir todo o assunto a ser pesquisado. Uma forma prática de fazer isso é selecionar os conceitos-chave da pesquisa e, depois pesquisar cada conceito. Evidentemente, pessoas diferentes podem identificar conceitos e formas de abordagem diferentes, dependendo das leituras realizadas e do grau de experiência de quem executa essa tarefa.
Um ponto importante da revisão de literatura (mais precisamente, do referencial teórico construído a partir dela) é que seus resultados serão usados na discussão dos resultados do estudo. Isto é, os resultados obtidos devem ser comparados com os resultados encontrados na revisão teórica. Por isso, a revisão de literatura deve abranger todos os conceitos que constam no objetivo geral.
Outro ponto fundamental é saber escolher o material da revisão, considerando vários critérios importantes, tais como o grau de autoridade reconhecida dos autores (segundo a instituição à qual se filia, por exemplo) e o tipo de informação buscada, que pode ser científica (a mais importante), especializada ou de atualidades.
No primeiro caso, é uma informação que consta de um trabalho que passou pela avaliação de autores da área, por exemplo, artigos de revistas científicas listadas pelo ‘sistema Qualis’, ou dissertações de mestrado, ou teses de doutorado. No segundo caso, a informação é produzida por alguém que entende do assunto, mas essa informação não foi avaliada pelos pares. Informações especializadas podem ser encontradas em revistas não científicas, e devem ser bem avaliadas antes de serem utilizadas. Às vezes são necessárias, mas devem ser usadas com certa cautela. E, por fim, as informações de atualidades referem-se àquelas que constam nos jornais, na internet, e em revistas de atualidades, de grande circulação. Elas também podem ser necessárias, mas devem ser evitadas, por estarem sujeitas a muitos erros; às vezes são opiniões bastante questionáveis, e sem fundamentação adequada. A citação dessas fontes pode não invalidar o trabalho de pesquisa, mas costuma gerar polêmicas que devem ser evitadas.
Existem artigos clássicos de cada área, importantes não somente pelo valor histórico, mas principalmente pelas suas contribuições. Contudo, é sempre bom verificar a data de publicação dos textos citados; artigos com mais de cinco anos de idade, com exceção dos clássicos, devem ser evitados, se não houver um bom motivo. Textos em português, em inglês ou espanhol são os mais comumente usados na pesquisa acadêmica; os artigos em português costumam ter referências mais diretas à realidade estudada, se o estudo trata de organizações, fatos ou eventos ocorridos no Brasil. Inglês e espanhol, além de bem compreensíveis, são línguas muito presentes no meio acadêmico. Busque, sempre que for possível, editoras que possuem comissão editorial, como aquelas vinculadas às universidades, porque editoras comerciais podem estar bem pouco preocupadas com a qualidade do texto – mas isso, claro, não é uma regra que tem que ser seguida à risca.
É importante, além disso, pesquisar o assunto amplamente e acessar pontos de vista diferentes, para que o trabalho fique mais completo e objetivo. Pode-se fazer várias citações literais, mas o seu número deve ser limitado, e essa citações não podem ser muito longas; além disso, não podem ser “enfileiradas” várias na mesma página. Na maioria das vezes é melhor fazer citações indiretas. Da mesma forma, evite ao máximo fazer “citação de citação” (apud). Esse recurso só deve ser usado se o texto original não puder ser localizado, como ocorre em casos de textos fora de circulação. Relacione e comente os diferentes pontos de vista sobre um assunto, descrevendo os pontos convergentes e os divergentes e identificando características, tais como a filiação a alguma escola de pensamento. O texto deve ser bem articulado, e os autores devem “conversar” uns com os outros – isto é: relacione-os, mostrando como um acrescenta algo, ou aprofunda a análise do outro, ou discorda completamente, partindo de outra perspectiva.
Finalizando: a revisão de literatura tem como finalidade levantar informações sobre os conceitos, identificando vários autores que tratam de forma diferente o mesmo tópico. O referencial teórico é um texto construído a partir daí, diretamente relacionado à seleção do significado de cada conceito-chave tratado na pesquisa, em consonância com o objeto do estudo e a linha de pesquisa adotada pelo autor. A revisão de literatura é um momento anterior, mais amplo; o referencial teórico, derivado da revisão de literatura, é mais específico, diretamente ligado ao objeto da pesquisa.